Instando Absolvição

Falemos da experiência ou da falta de tato e comiseração nas pequenas ambiências, moradias adiadas por um sentido obliterado dos termos, palavras vãs, cascatas, supremos gostos, validades, fulgores, risos de deuses bem dispostos, chuva, na maioria das vezes, apodrecendo os sentidos, mastigação do riso por cada um dos intervalos.

O Sentimento de Culpa, José Maria de Aguiar Carreiro

Random Conversation (complete) / Begging

15 de dez. de 2010

Sentiu as gotas pesadas caírem como cacos de vidro em sua pele, milhões e milhões de pedacinhos que juntos provocavam a dor do contato de sua pele naturalmente pálida e seus cabelos loiros. Tentava clarear a mente com algum tipo de meditação enquanto saía do chuveiro desligando rapidamente e se enrolando na toalha.

A brisa do inverno irlandês a afetou assim que chegou ao closet enquanto ainda derramava algumas gotas por onde passava. Jogou a toalha em algum canto e puxou sua camisola, percorrendo o dedo enrugado por conta da água através da seda. Assim que a vestiu pode sentir o contato do quente com sua pele fria, mesmo que pequena, a camisola a esquentava, porém não o suficiente. Faltava calor humano.

Afastou-se do closet adentrando no quarto. Silêncio desconfortável. Pode ver a silhueta do peitoral nu tão conhecido. Ele estava sentado na cama com as mãos juntadas, o corpo inclinado para frente e olhava para baixo. Seus cabelos curtos e castanhos assim como seus olhos um pouco mais escuros eram em sincronia com sua pele levemente bronzeada e seu corpo musculoso.

A luz da lua cheia que se encontrava através da sacada – a direção para qual ele estava virado – contornava suas feições e as de todos os móveis do quarto que era composto por cores pastéis.

─ Olá. ─ ela proferiu fazendo com que sua voz saísse mais como um sussurro, mas que ele foi capaz de ouvir. Aquela voz que ele desejava esquecer. A menina se aproximou enquanto mordia os lábios. Não tinha palavras naquele instante, só esperava uma resposta para ver se ele ainda estava ali, dentro daquele corpo quase intacto.

─ Hey. ─ ele disse apenas por educação e tentando domar sua própria mente. Talvez na verdade fosse apenas aquela voz que ele queria ouvir, quem sabe ter uma overdose dela, ele não se importava.

─ Você está bem? ─ ela arriscou novamente.

─ Uhum. ─ Foi apenas um murmuro imediato como se ele já soubesse que ela só perguntava aquilo por formalidade. Ela sabia que ele não estava. Ele apenas recebeu um murmuro de volta e sentiu um peso do outro lado da cama. Ela não estava perto dele, eles estavam sentados um de costa para o outro, não era para ela ainda estar lá.

─ Então você só está aqui para perguntar se eu estou bem e ficar sentada aí? ─ Ele foi rude, porém a presença dela o afetava em grande escala, ele suava em suas mãos que se apertavam cada vez mais.

─ Não. ─ respondeu automaticamente. Sua voz estava pesada e ela sentiu que poderia chorar a qualquer instante.

─ Então, por favor, seja rápida. ─ aumentou um pouco o tom de voz logo depois o abaixando ─ Eu preciso de um tempo para aproveitar minha solidão.

─ Eu tenho que dizer isso... Não foi sua culpa. Digo, nós dois não poderíamos imaginar o que tudo seria realmente. E eu quero que você me perdoe porque se não eu terei de fazer algo que eu realmente não quero.

─ O quê?

Nesse momento ele pôde perceber pelo movimento da cama que ela havia virado o corpo em direção às costas dele com as mãos apoiadas no colchão e uma das pernas dobradas.

─ Vou ter que implorar. ─ não saiu com toda a firmeza que ela queria. Ele percebeu e fez questão de virar para encarar aquele outro par de olhos castanhos que o hipnotizavam. Mas ele os encarava com certo desprezo mesmo que por dentro estivesse sentindo vontade de fazer com que aqueles olhos tristes desapareçam com um abraço.

─ Por que você não tenta? Seria tão agradável! ─ ele cuspia as palavras sarcásticas para ela enquanto mantinha os olhos semicerrados. Fez uma cara retraída como se estivesse pensando e continuou ignorando aquele par de olhos implorando. ─ Não, espera. Você não consegue ser agradável.

─ Nós realmente precisamos disso? ─ ela perguntou enquanto entortava o canto da boca e espremia mais os olhos que estavam começando a ficar avermelhados.

─ Sim, nós precisamos. Porque foi essa coisa de implorar desde o início. ─ o garoto disse enquanto levantava massageando os próprios ombros largos e ficando de costas para ele.

─ Então você acha que esse é o nosso problema? ─ ela perguntou enquanto inclinava-se em direção ao outro lado da cama para se levantar também.

─ Não. É apenas o meu problema. O seu problema é precisar disso. ─ as palavras dele saíam com mágoa ─ E então você vem aqui e me pergunta se eu estou bem. Esse é meu segundo problema. Achar que eu estou sempre bem quando eu estou perto de você.

─ Então não é verdade. ─ A loira indagou enquanto andava um passo em sua direção, estavam com uma distância de um metro e meio que parecia ainda menor. O silêncio permaneceu por um tempo enquanto ela se aproximava e ele se encostava na sacada. Ela podia ver seu corpo que só era coberto por uma calça de malha.

─ Eu não sei. ─ ele por fim respondeu quando ela já estava na porta da sacada cerca de quatro passos longe dele. ─ Eu não sei de nada agora. ─ Mais uma longa pausa. ─ Eu só acho que você deveria ir.

─ Eu não quero. ─ ela murmurou encostando-se na porta da sacada mantendo seu corpo de lado em relação às costas do garoto.

─ Você está fazendo tudo isso de novo. ─ ele disse dando uma olhadela através de seu ombro para checar a garota. Encontrou-se com os olhos dela que fizeram com que ele tremesse por dentro. ─ Você está tentando ME fazer implorar.

─ Quem implora é o perdedor agora? ─ perguntou agora se aproximando e ficando perto dele também encostada na grade da sacada.

─ É o nosso ciclo vicioso. ─ ele apenas disse cruzando os braços e mudando de posição, agora encostando suas costas na grade.

─ Eu te amo. ─ ela sussurrou, tanto para ele como para si mesma. Ela estava finalmente convencida daquilo mesmo depois de não pensar em cogitar isso nunca.

─ O quê? ─ ele havia ouvido perfeitamente, mas algo em sua mente ainda dizia que havia algo errado. Ela nunca havia amado ninguém. Ninguém.

Ela bufou e andou até ficar de frente para ele, encostando as costas na porta.

─ Eu. Te. Amo. ─ disse agora alto e claro. ─ E se você precisar, eu imploro para você dizer que também me ama.

─ E se eu não te amar? ─ ele levantou uma sobrancelha e descruzou os braços aproximando mais dela. Assim era possível notar os quase vinte centímetros de diferença dele para ela.

─ Então eu posso implorar para que você ao menos não se vá hoje. ─ ele bufou e ainda mantinha uma expressão séria.

─ Você não me ama. ─ falou com firmeza.

─ Por favor. ─ ela insistiu cruzando as duas mãos e se aproximando dele.

─ Você não me ama.

Ele passou por ela e pela porta e foi para perto da porta do quarto que dava para o corredor do hotel. Ela andou rápido e se sentou na cama.

─ Eu estou implorando. ─ disse a garota fazendo com que ele parasse seu caminho até a porta. Ele se virou encarando-a e andando até onde ela estava sentada e ajoelhou-se em sua frente. ─ O que você está fazendo? ─ disse com um murmuro.

─ Eu estou implorando também. Mas eu estou implorando ajoelhado porque é o único jeito que eu encontrei de você entender que eu te amo mais para continuar com esses jogos. Eu não devia. Eu devia me amar mais do que eu te amo, eu tentei. E eu não consigo. Então por favor, destrua minha vida, leve meu coração contigo, me diga um milhão de vezes que me odeia e faça tudo novamente.

Ele encostou no rosto dela com a ponta dos dedos.

─ Por que eu faria isso?

─ Então eu vou te implorar para voltar e você vai finalmente me deixar, porque você estará cansada e desistirá alguma hora. Então eu posso provar à mim mesmo que eu sou capaz de morrer infeliz. Porque agora eu estou apenas provando que não sou capaz de viver sem você.

Ele a aproximou e a abraçou com força fazendo com que seu corpo se reclinasse na cama e os dois passassem a ficar deitados. Nesse tempo ele entrelaçou os dedos no cabelo loiro e molhado dela enquanto puxou-a até que suas bocas se encontrassem rapidamente. Eles já estavam corrompidos, porém sempre poderiam trazer a inocência de volta por alguns segundos.

─ Eu te odeio. ─ ela pronunciou olhando fundo nos olhos agora confortáveis dele ─ Você me tornou uma pessoa melhor.

─ Não, eu te tornei humana. Invulnerável a sentimentos alheios. Mate-me por isso com a pequena parte humana que eu deixei em você. Mate-me com seu amor.

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So nevermind the darkness, we still can find a way... 'Cause nothing lasts forever... Even cold November Rain.