Instando Absolvição

Falemos da experiência ou da falta de tato e comiseração nas pequenas ambiências, moradias adiadas por um sentido obliterado dos termos, palavras vãs, cascatas, supremos gostos, validades, fulgores, risos de deuses bem dispostos, chuva, na maioria das vezes, apodrecendo os sentidos, mastigação do riso por cada um dos intervalos.

O Sentimento de Culpa, José Maria de Aguiar Carreiro

You Found Me

17 de ago. de 2010

Por Mariana 'Scuse' Travain

Andas sozinho com a neblina cobrindo até a altura de teus ombros, tua pele está amedrontada através do vento gelado. Refrigério é tudo que não te preenche, calmaria é tudo em volta de ti. Estás sozinho e isso é tudo. A figura abstrata do homem fumando o último cigarro que te vem à mente é tão real quanto a neblina em sua volta, mas estás sozinho. E isso é tudo. Esquina da Primeira com a Amistad.

Apenas admite que as incertezas são as únicas certezas que tens da vida. O que pensavas ser real era irreal e o momento que se segue parece tão irreal que sua mente o trata como real. E aquele abstrato ao teu lado era apenas mais uma de tuas distantes incertezas. E em um sopro você o pergunta em uma voz fraca, tomada por medo e insegurança, onde Ele esteve todo este tempo.

Os últimos dias, que não sabes se são muitos ou não, perdestes toda tua noção de tempo. Inconscientemente alguma vez indagou-se sobre Ele. E muitas respostas vieram à tua cabeça. Muitas. E agora não sabes qual dela cabe ao homem com o cigarro na mão, nada que pensastes, nada que ouvistes, nada que sentistes, nada que visses.

Nada que ouvistes.

— Pergunte-me qualquer coisa.

E Ele se pronunciou. Nada que ouvistes. Não era voz, não era o que esperavas, se é que esperavas algo. Não és um homem de fé, não és nada mais que mais um ser humano. E sabes disso através de tua voz. Ela não ecoa em teu interior, em tua alma como todos dizem. E a dúvida paira em tua cabeça.

E apenas perguntou onde Ele esteve quando tudo desmoronou em tua cabeça. E esperavas por milhões de respostas e não achavas nada. Todos os dias gastos ao telefone, que nunca tocou e nunca veio até a esquina da Primeira com a Amistad.

Todos os momentos em quais você se indagou e orastes tantas e tantas vezes em busca de respostas e tudo que vinhas era uma acusação. Onde Ele estava nos últimos momentos de “Adeus”? Ele estava escondido em tua palavra? Nada o fizera ter prazer em dizê-la. E o nada era o que mais motivava cada “Adeus”.

Logo no meio de tantas despedidas vistes teu corpo perdido vagando pelas estreitas e movimentadas ruas de tua mente. E toda a eloqüência te movia, apenas por não seres eloqüente. Primeiro o abandono de duas pessoas, que logo se tornaram três e assim se seguiram. Todas muito eloqüentes em suas despedidas. E você ali perdido, sem palavras.

— Me encontrastes, perdido e inseguro, deitado no frio chão, rodeado. Por que tiveras de esperar? Onde estavas?! — E uma falha soa em tua voz, abaixando significadamente teu tom — Me encontrastes, mas um pouco tarde demais.

E a insegurança de tua palavra vaia com tua incerteza. Não há resposta. Não há mais nada n’Ele além do movimento que levava o cigarro até a boca. Seus olhos se perdem no negro nas extremidades, mas a luz do azul vibrante, do verde da cor das águas, do castanho dos troncos velhos, do vermelho do sacrifício.

E Ele repete em tua mente. Não és um homem de fé. Não és nada mais que um ser humano. E isso para ti não é tudo. Milhões de dúvidas ainda pairam em tua cabeça. És muito menos que uma incerteza, és um ser humano. Para Ele isso é tudo. Para ti isso fora nada. Nada até de tuas convicções tirarem a dúvida e o escrito em um livro velho se tornar incerteza.

Ele estava ali para acabar com todas tuas incertezas. Mas era tarde demais. Todas as despedidas já haviam sido pronunciadas, todas as incertezas sanadas. E o que era incerteza agora era negação. E isso se passou a ser tudo. Mentira passou a ser tudo.

Erros passaram a ser vossos dilemas e não vos arrependestes qualquer segundo.

Em tua mente, o final parecia claro para cada vida. Elas nascem, passam um tempo neste cenário de dementes, segundo Shakespeare, e morrem. E isso é tudo. Esta é a maneira como encaras a vida e isto não o incomoda de qualquer jeito. Pois ainda há bilhões de pessoas como você. E você é apenas um ser humano. Logo, vocês estão ali frente a frente, o médico e o monstro.

E você perdera tudo. Tudo que um dia, mesmo que não fosse material, te pertencera. Toda a pele macia que podias acariciar à noite se desvanecera. E não sabes mais quem és. Não sabes quem não és. Não sabes o que quer ser. Não há como saber o tempo em que ela ficará ao teu lado.

Ele te achou, mas um pouco tarde demais.

Nota final: Não é apologia a qualquer coisa, apenas uma hipótese de um encontro que veio à minha cabeça que é basicamente a música homônima do The Fray.

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So nevermind the darkness, we still can find a way... 'Cause nothing lasts forever... Even cold November Rain.