Instando Absolvição

Falemos da experiência ou da falta de tato e comiseração nas pequenas ambiências, moradias adiadas por um sentido obliterado dos termos, palavras vãs, cascatas, supremos gostos, validades, fulgores, risos de deuses bem dispostos, chuva, na maioria das vezes, apodrecendo os sentidos, mastigação do riso por cada um dos intervalos.

O Sentimento de Culpa, José Maria de Aguiar Carreiro

14 de out. de 2010

Maryann emergiu de seu cochilo com o barulho irritante da chaleira vindo da cozinha. Esfregou os olhos xingando-os por arderem como o inferno (assim como a chaleira pelo barulho e a si mesma por não ter comprado um colírio). Abandonou seu sofá e sua coberta e aconchegou seus pés em suas pantufas rosadas. Ainda não havia se acostumado com o inverno inglês, porém o som da chuva batendo contra a janela e a imobilidade de seus membros era até que confortante.
Não colocou as luvas para pegar na chaleira e de certa forma gostou do contato de seus dedos congelados com o utensílio quente. Colocou o objeto morno rapidamente em cima da pia e nesse instante ouviu o barulho (ainda mais irritante que o da chaleira) da campainha. A loira deu uma olhada rápida para o relógio na parede e viu que já era tarde se indagando quem poderia ser. A campainha tocou mais uma vez e Maryann resolveu atendê-la. Arrastou as pantufas até a porta e limpou o olho mágico embaçado de onde aproximou seu pequeno olho avermelhado. Deparou-se com a imagem de seu melhor amigo bastante molhado.
─ Tom! ─ exclamou enquanto voltava a esfregar seus olhos ao abrir a porta.
─ Hey Mary. ─ ele disse, ou melhor, sussurrou cabisbaixo. Maryann nunca vira Tom daquele jeito, ele estava devastado e ela não conseguia ao menos ver seus olhos direito, eles encaravam alternadamente ela e o chão. ─ Posso entrar?
O jeito como ele perguntou não era como se ele fosse sua visita quase todo dia e ao mesmo tempo foi como se ele pedisse permissão para fazer daquele lugar o seu próprio lar. Seu par de olhos castanhos suplicava, mesmo sabendo que ele não precisava fazer aquilo para convencê-la, não era por aquele motivo.
─ Claro, entre. ─ ela finalmente pronunciou abrindo caminho para que ele entrasse no lugar pequeno e aconchegante. Maryann fechou a porta enquanto Tom andava em direção à sala de estar.
─ Desculpe se te acordei. ─ ele murmurou novamente enquanto se apoiava na única parede que dividia a sala de estar da cozinha onde a garota entrou.
─ Não, imagine. Estava fazendo chá. Aceita? ─ perguntou do outro cômodo e recebeu um som que parecia de afirmação. Thomas encarava todo o ambiente, estava confortável e esperava esquecer tudo o que precisava esquecer.
Pode ouvir o som das pantufas de Maryann voltando a seu encontro com duas canecas na mão. Ela apenas tomava xícara em canecas, talvez por isso qualquer um diria que não era inglesa, o que de fato era verdade. Mas Tom havia se acostumado com suas manias e até aderido algumas delas através da convivência.
─ Então, ─ ela falou, Tom podia perceber que ela havia acabado de acordar por sua voz, sabia que ela iria falar que não. ─ Você vai me contar o que houve primeiro ou vamos assistir Back to the Future logo?
O garoto sorriu brevemente de volta mostrando suas covinhas, aquelas terríveis covinhas que deixavam ele mais fofo do que já era naturalmente. Tomou um gole de chá de sua camomila. Maryann o entregou uma toalha para que se secasse antes de responder.
─ Eu não sei. ─ era difícil olhar nos olhos dela agora, ele não queria fazê-la se sentir mal porque sabia que isso acontecia toda vez que ele lhe contava algo. ─ Eu e a Gi terminamos.
Tom falou rapidamente tentando logo colocar pra fora o assunto.
─ É engraçado porque eu sabia que depois de todos esses anos eu ainda não estava preparado pra isso, mesmo sabendo que ia acontecer. ─ estavam os dois encostados na parede ─ E o pior é que eu nem sei o que estou sentindo em relação a isso. Às vezes é até alívio. Mas Gi é uma pessoa amável...
─ Sim, ela é. ─ a garota sabia o que vinha a seguir. Ouvira a conversa de Giovanna com Izzy no dia anterior e Tom não sabia, mas sua culpa estava preenchendo cada espaço dela mesma. Ela gostava de Gi, gostava mesmo.
─ Ela não pode ser nada mais entende?
Mary deixou o silêncio predominar e se aproximou de Tom enquanto tomava mais um gole de seu chá. Não tinha o que dizer.
─ Eu acho que eu que vou pedir para assistirmos Back to the Future agora.
Ele a abraçou forte e ela retribuiu enquanto sentaram no sofá ligando a TV da sala. Era apenas um sentimento confortável. Para ambos. Finalmente.

Foi meu sonho de ontem e hm, Tom Fletcher, check, Eu, check, Back to the Future, check, foi um ótimo sonho....

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So nevermind the darkness, we still can find a way... 'Cause nothing lasts forever... Even cold November Rain.