Não colocou as luvas para pegar na chaleira e de certa forma gostou do contato de seus dedos congelados com o utensílio quente. Colocou o objeto morno rapidamente em cima da pia e nesse instante ouviu o barulho (ainda mais irritante que o da chaleira) da campainha. A loira deu uma olhada rápida para o relógio na parede e viu que já era tarde se indagando quem poderia ser. A campainha tocou mais uma vez e Maryann resolveu atendê-la. Arrastou as pantufas até a porta e limpou o olho mágico embaçado de onde aproximou seu pequeno olho avermelhado. Deparou-se com a imagem de seu melhor amigo bastante molhado.
─ Tom! ─ exclamou enquanto voltava a esfregar seus olhos ao abrir a porta.
─ Hey Mary. ─ ele disse, ou melhor, sussurrou cabisbaixo. Maryann nunca vira Tom daquele jeito, ele estava devastado e ela não conseguia ao menos ver seus olhos direito, eles encaravam alternadamente ela e o chão. ─ Posso entrar?
O jeito como ele perguntou não era como se ele fosse sua visita quase todo dia e ao mesmo tempo foi como se ele pedisse permissão para fazer daquele lugar o seu próprio lar. Seu par de olhos castanhos suplicava, mesmo sabendo que ele não precisava fazer aquilo para convencê-la, não era por aquele motivo.
─ Claro, entre. ─ ela finalmente pronunciou abrindo caminho para que ele entrasse no lugar pequeno e aconchegante. Maryann fechou a porta enquanto Tom andava em direção à sala de estar.
─ Desculpe se te acordei. ─ ele murmurou novamente enquanto se apoiava na única parede que dividia a sala de estar da cozinha onde a garota entrou.
─ Não, imagine. Estava fazendo chá. Aceita? ─ perguntou do outro cômodo e recebeu um som que parecia de afirmação. Thomas encarava todo o ambiente, estava confortável e esperava esquecer tudo o que precisava esquecer.
Pode ouvir o som das pantufas de Maryann voltando a seu encontro com duas canecas na mão. Ela apenas tomava xícara em canecas, talvez por isso qualquer um diria que não era inglesa, o que de fato era verdade. Mas Tom havia se acostumado com suas manias e até aderido algumas delas através da convivência.
─ Então, ─ ela falou, Tom podia perceber que ela havia acabado de acordar por sua voz, sabia que ela iria falar que não. ─ Você vai me contar o que houve primeiro ou vamos assistir Back to the Future logo?
O garoto sorriu brevemente de volta mostrando suas covinhas, aquelas terríveis covinhas que deixavam ele mais fofo do que já era naturalmente. Tomou um gole de chá de sua camomila. Maryann o entregou uma toalha para que se secasse antes de responder.
─ Eu não sei. ─ era difícil olhar nos olhos dela agora, ele não queria fazê-la se sentir mal porque sabia que isso acontecia toda vez que ele lhe contava algo. ─ Eu e a Gi terminamos.
Tom falou rapidamente tentando logo colocar pra fora o assunto.
─ É engraçado porque eu sabia que depois de todos esses anos eu ainda não estava preparado pra isso, mesmo sabendo que ia acontecer. ─ estavam os dois encostados na parede ─ E o pior é que eu nem sei o que estou sentindo em relação a isso. Às vezes é até alívio. Mas Gi é uma pessoa amável...
─ Sim, ela é. ─ a garota sabia o que vinha a seguir. Ouvira a conversa de Giovanna com Izzy no dia anterior e Tom não sabia, mas sua culpa estava preenchendo cada espaço dela mesma. Ela gostava de Gi, gostava mesmo.
─ Ela não pode ser nada mais entende?
Mary deixou o silêncio predominar e se aproximou de Tom enquanto tomava mais um gole de seu chá. Não tinha o que dizer.
─ Eu acho que eu que vou pedir para assistirmos Back to the Future agora.
Ele a abraçou forte e ela retribuiu enquanto sentaram no sofá ligando a TV da sala. Era apenas um sentimento confortável. Para ambos. Finalmente.
Foi meu sonho de ontem e hm, Tom Fletcher, check, Eu, check, Back to the Future, check, foi um ótimo sonho....
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